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Ao longo dos anos têm sido tímidos os avanços e iniciativas para debate e reflexão relativamente à possibilidade de criação/existência de uma Ordem de Professores e, paralelamente ou não, de um código deontológico. Não pretendo aqui discorrer sobre questões de alguma tecnicidade (exclusividade das profissões liberais, auto-regulação, independência moral e ética, etc.). Este post surge em consequência de mais uma manifestação de intenção sobre o tema levada a cabo pela Associação Nacional de Professores e aproveitando um post que o Paulo Guinote publicou no Umbigo.
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Em resposta ao seu texto referi, comentando as palavras do Paulo, que se por um lado sobre a possibilidade de criação de uma Ordem afirmava, e concordo plenamente, que “seria um projecto interessante”, logo de seguida parecia pré-determinar que, a ser criada, esta dependeria de uma aceitação do Estado em conferir ao professorado um espaço próprio de acção moral, ética e cientificamente auto-reguladora: “(…) se o Estado aceitasse que os professores, maioritariamente seus funcionários, pudessem auto-regular o exercício da própria profissão (…)”. Mas, tal como o Paulo afirma, a não dependência quase umbilical do Estado na regulação e decisão da carreira docente é, exactamente, uma das grandes ‘virtudes’ de uma, por ora apenas conjecturada, Ordem de Professores: “(… )A vantagem evidente de uma estrutura deste tipo seria uma maior independência da classe docente em relação ao poder político (…)”.
Eu penso que percebo esta sua precaução/observação. De facto “neste momento, isso não parece ser algo que agrade a esse mesmo poder”. No entanto tal facto só vem reforçar ainda mais a importância e necessidade de existência de uma Ordem de Professores, que poderia conferir, nestes momentos de impasse e atropelo a uma profissionalidade já de si fragilizada, uma certa dose de esperança e, acima de tudo, de respeitabilidade social, cultural e intelectual.
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Teoricamente sem aditivos e conservantes.
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Obviamente que muitos se manifestam profundamente contra, outros enfatizadamente a favor. O que me leva a outro ponto:
De que, sinceramente a ‘confusão’ arrasta-me.
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(colocando em termos simplificados)
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Para uns dever-se-á dizer não aos sindicatos. Pelas mais variadas razões que vão desde estes não representarem integramente os professores, até ao facto de neles se alojarem um conjunto de profissionais que vê nessa forma um modo de evitar a escola, as aulas e o ensino.
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Para outros dever-se-á dizer não aos movimentos mais ou menos espontâneos/independentes de professores. Pelas mais variadas razões que vão desde estes não agirem de forma devidamente organizada e construtiva, sendo mais lugar para expressões vãs de descontentamento pessoal, até ao facto de esses movimentos fragilizarem a posição negocial dos sindicatos ao retirarem dos seus ombros os galões da mobilização dos docentes.
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Para outros dever-se-á dizer não à Ordem dos Professores. Pelas mais variadas razões que vão desde esta poder tornar-se apenas mais uma organização de clientelas politicas e intelectuais, destinada logo à partida ao insucesso por emanar de um grupo profissional com um longo historial de balcanização (está na moda) cientifica/académica/sindical/política, até ao facto de esta não ser alternativa credível para uma necessária revisão da profissionalidade docente.
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Para outros dever-se-á dizer não a tudo. Para outros dever-se-á dizer sim… ou talvez…. Ou não sei… ou não quero saber…
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Ou
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Ou…
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E neste arrastão de ideias, vontades e desejos é importante guardarmos o discernimento suficiente para perceber que devemos ouvir os outros, não dar nada como certo (ou errado) e acima de tudo tentar que a nossa opinião, seja ela qual for, esteja devidamente fundamentada e sustentada nas mais diversas fontes que não apenas aquilo que vamos lendo nos jornais, lendo num blogue ou ouvindo em conversas de evasão profissional.
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